Um grupo de quase 200 pessoas se reuniu na tarde deste domingo (04/12) em frente à nova sede do Ministério Público Federal, na avenida João XXIII, em ato convocado pelo movimento Vem Pra Rua. Na pauta, protestos pela aprovação do pacote de medidas anticorrupção, que foi alterado na Câmara Federal, com inclusão de emendas como a que trata sobre abuso de autoridade. O projeto vem sendo encarado como uma forma de barrar a Operação Lava Jato, que investiga escândalos de corrupção no país.
Adriana Sousa, uma das coordenadoras do movimento Vem Pra Rua em Teresina, diz que ficou "satisfeita" com a mobilização. "Foram quatro dias de divulga, não havíamos programado participar nesta data, mas por ter sido em cima da hora, estamos satisfeitos", disse, mencionando a participação de magistrados, membros do Ministério Público Estadual e Federal, e da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Piauí.
"O pacote de medidas contra corrupção foi votado na calada da noite, e foi completamente desfigurado. Estamos manifestando nossa indignação pelo que aconteceu, tentando atentar para que o Senado não dê continuidade à aprovação das alterações feitas pela Câmara. Estamos pedindo o Fora Renan [Calheiros] por entender que agora ele é réu e não pode estar presidindo o Senado Federal sendo o primeiro nome na escala presidencial", ressalta Adriana, mencionando ainda que o ato pede fim do foro privilegiado e maior debate sobre o projeto de lei do abuso de autoridade.
- Fotos: Fábio Carvalho/180graus
Um dos membros do MPE-PI presente na manifestação era o coordenador do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), promotor Rômulo Cordão. Para ele, é necessária maior participação popular antes da votação de medidas que são tão importantes. "Alterações estão sendo feitas sem participação popular e das classes envolvidas, na democracia não se permite que de forma abrupta, extemporânea e sorrateira, o Congresso se reúna e tome uma decisão tão importante, sem participação da sociedade", diz, afirmando ainda que se trata de uma manobra clara no sentido de calara Lava Jato.
A opinião é a mesma compartilhada pelo promotor Ubiraci Rocha, que foi às ruas hoje para "tentar derrubar o que a Câmara Federal fez". Afirma ainda que o ato "foi uma traição ao povo brasileiro, e serve mais para intimidar o Ministério Público e o Judiciário, tornando impune crimes cometidos por poderosos e políticos, e em relação a isso, a sociedade tem que reagir".
Já a promotora Amparo Paz, que atua no Núcleo de Defesa da Mulher Vítima de Violência, teme que casos delicados se voltem contra ela, quando a vítima acaba sendo intimidada e inocentando seus agressores. "Quando chega no juiz, ela muda o enredo para inocentar aquele homem. Em casos onde só temos o depoimento da vítima, suponhamos que o juiz inocente aquele réu. O advogado do acusado poderá muito bem entrar com uma ação contra mim, por abuso de autoridade. É temeroso fazer a defesa do direito da mulher, assim como em casos de estupro, onde praticamente não há testemunhas. Como é que vamos trabalhar? É com medo, respondendo processo e pedidos de indenização. É perigoso esse PL passar, e pleitear que os senadores votem contra", diz.
Durante o ato, o juiz José Airton Medeiros falou em nome dos magistrados presentes. Afirmou que este é o momento de contribuir para que a sociedade brasileira faça uma avaliação exata da gravidade das medidas aprovadas pelo Congresso Nacional. "O que foi feito no Congresso Nacional não atinge, não diz respeito, nem de longe, exclusivamente, à interesse individual corporativo do Ministério Público e da Magistratura. Eu, como a maioria que está aqui, tem filhos. Tenho conversado na minha casa que estamos vivendo o sentimento de 'o que faremos' para que impedir que este país seja destruído por gente que, na verdade, tinha que está, onde na verdade onde todos sabemos", disse, recebendo apoio de outros presentes.
Por: Veja Parnaíba com informações do 180 Graus
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